CELACANTO
PAULO PRATES JR.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Sobre o chão áspero de cascalho
Cercado por campos de soja
Ela devora açúcar mascavo
Entre escassas arvoretas
Ela descansa
Descasca romã
No percurso de volta à vila
Região pobre do vale
Ela conta andorinhas no fio de cobre
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Ruídos regidos pela corda sol
Em redes de sons sazonais
Não acalentavam as paredes alvas
Tudo o que era próprio dela
Fugia-lhe de repente
Cicatrizes no tapete da casa
Asas pardas da curicaca
Descaso com o dever verde
Fruindo latente em seus sonhos
Em uma tarde vazia de outono
Catarse
A chuva disse que vinha
Ela disse: voltei
Estou comendo uvas
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Distante
Por entre frestas
Avisto o cume verde
De arestas metálicas cônicas
Atento
Recordo-me do vento
Paisagens robustas
Passagens de um tempo contínuo
Agora
A floresta do parque está lá
Concreta
Onde a sequoia vingou
Percebo
Na íris da menina
Que na sina de seus anseios
Desafia o medo
Desejo de ser feliz
Não gosto de pérgolas erguidas no concreto
Argolas de metal sobre a mesa
Certeza de que vou embora
Ensaios cronometrados me tonteiam
Não dizem nada
O vento rijo agora diminui
Cães passeiam a toa às margens do lago
Logo é verão
Na casa alva
Leve
Passo o piso fosco
Rabisco risco
Rasgo
Vaso verde da janela
Conto raros cães vadios
Tela plana
Planos antiquados no quarto
Quadros pendurados ao acaso
Muro
Mudo
Por entre sequoias
Voo livre ao sul
Protejo projeto
Planejado ontem à tarde
Enquanto descanso na cadeira de balanço
Embaixo da sombra da jabuticabeira
Quieto
Passo a próxima página
Conto raros cães vadios
Regresso
Na casa antiga ao lado
Jardins franceses efêmeros
Portão entreaberto
Tormento de domingo passado
A todo instante
Roseiras são podadas
A corda ré desgastada de som
Retorno aquele dia
Casas vazias
Afônicas
Notícias velhas impressas no chão
Rabisco risco
Rasgo
Folhiço sujo de ontem à tarde
Olho manso
Pratos fartos sobre a toalha de renda fixa
Bolos
Bolores
Ainda tem você na sala
À sombra,
Murmúrios cálidos
Sinto cheiro de romã
Visto que ontem à tarde
Justo ali na sala ao lado
Ela contava conchas vazias
Sobre a colcha macia de lã
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