domingo, 9 de junho de 2013

Na manhã seguinte
Passos rasos
Ruas curvas vicinais
Encobertas de turva neblina
Que tolhe a vista

Caminho


Concreto lascado e fendas
Deixo marcas efêmeras
Chove ácido de onde vim

terça-feira, 21 de maio de 2013


Quando está escuro
Sigo muro de concreto
Cego 
Entre galhos secos

Canto de pássaro nativo
Pista de mão dupla

Ávido
Fujo

Não há meio mais seguro
Das galáxias ao efeito estufa

domingo, 19 de maio de 2013


Ruídos regidos pela corda sol
Em redes de sons sazonais
Não acalentavam as paredes alvas

Tudo o que era próprio dela
Fugia-lhe de repente

Cicatrizes no tapete da casa
Asas pardas da curicaca 
Descaso com o dever verde
Fruindo latente em seus sonhos

Em uma tarde vazia de outono
Catarse

A chuva disse que vinha
Ela disse: voltei
Estou comendo uvas

Visto que ontem à tarde

Justo ali na sala ao lado

Ela contava conchas vazias

Sobre a colcha macia de lã

Ontem à noite
Ante a tormenta do cais
Contava conchas vazias na areia

O silêncio
Capaz de levar adiante o que não me afaga
Apaga da história o que não disse

Réstia de luz
Resta-me
Nós

Verdes acúleos vigiam
Sede da erosão de intempéries

Angústia que aflige
Haste dúbia que fomenta a trilha

Linha tênue no quintal

Não posso mais dormir
Vagalumes ainda dançam

Cume do morro
Vazio

Corro da chuva
Sabiás cantam na janela
Cheiro de azaleia no quarto

Quieto em meu canto
Decoro canção antiga

Disfarço
Verde oliva
Como se fosse fácil de manejar
Ela escova fios de seda na varanda

Desvela com zelo
À tarde fria

Fósseis que não saem dos jornais de domingo

No caminho de Ipanema
Conta máculas no trapiche

Centelhas de velas
À noite na sala de cinema

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Sobre o chão áspero de cascalho
Cercado por campos de soja
Ela devora açúcar mascavo

Entre escassas arvoretas
Ela descansa
Descasca romã

No percurso de volta à vila
Região pobre do vale
Ela conta andorinhas no fio de cobre

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Ruídos regidos pela corda sol
Em redes de sons sazonais
Não acalentavam as paredes alvas

Tudo o que era próprio dela
Fugia-lhe de repente

Cicatrizes no tapete da casa
Asas pardas da curicaca 
Descaso com o dever verde
Fruindo latente em seus sonhos

Em uma tarde vazia de outono
Catarse

A chuva disse que vinha
Ela disse: voltei
Estou comendo uvas

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Distante
Por entre frestas
Avisto o cume verde
De arestas metálicas cônicas

Atento
Recordo-me do vento
Paisagens robustas
Passagens de um tempo contínuo

Agora
A floresta do parque está lá
Concreta
Onde a sequoia vingou

Percebo
Na íris da menina
Que na sina de seus anseios
Desafia o medo

Desejo de ser feliz

Não gosto de pérgolas erguidas no concreto
Argolas de metal sobre a mesa
Certeza de que vou embora

Ensaios cronometrados me tonteiam
Não dizem nada

O vento rijo agora diminui
Cães passeiam a toa às margens do lago
Logo é verão

Na casa alva
Leve
Passo o piso fosco

Rabisco risco
Rasgo

Vaso verde da janela

Conto raros cães vadios

Tela plana
Planos antiquados no quarto
Quadros pendurados ao acaso

Muro
Mudo

Por entre sequoias
Voo livre ao sul

Protejo projeto
Planejado ontem à tarde
Enquanto descanso na cadeira de balanço
Embaixo da sombra da jabuticabeira

Quieto
Passo a próxima página
Conto raros cães vadios
Regresso

Na casa antiga ao lado
Jardins franceses efêmeros
Portão entreaberto

Tormento de domingo passado

A todo instante
Roseiras são podadas


A corda ré desgastada de som
Retorno aquele dia
Casas vazias
Afônicas

Notícias velhas impressas no chão
Rabisco risco
Rasgo
Folhiço sujo de ontem à tarde
Olho manso
Pratos fartos sobre a toalha de renda fixa
Bolos
Bolores

Ainda tem você na sala

À sombra,
Murmúrios cálidos

Sinto cheiro de romã

Visto que ontem à tarde
Justo ali na sala ao lado
Ela contava conchas vazias
Sobre a colcha macia de lã